quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Bak Siu Lam Kuen Mun (Shaolin do Norte)

Um dos estilos mais famosos e conhecidos, o Shao Lin Norte foi criado a partir de técnicas desenvolvidas dentro do Mosteiro Budista de Shao Lin.

Fundado em 495 pelo Imperador Xiao Wen (471 a 500), o mosteiro de Shao Lin foi construído bem próximo a uma floresta (Shao = jovem; Lin = floresta) no sopé da montanha Song, na província de Henan, entre as cidade de Zhengzhou e Luoyang (antiga capital do império chinês), ao norte do Rio Amarelo (Huang He).

O primeiro abade foi o monge indiano Badhra (Batuo), e o único propósito do mosteiro de Shao Lin era de se tornar o mais importante centro para o estudo, desenvolvimento e ensino do budismo em toda a Ásia. Considerado também como centro de peregrinação, o mosteiro de Shao Lin recebeu monges budistas de toda a Ásia (Índia, Ceilão, Pérsia).

No que diz respeito às artes marciais chinesas e o mosteiro de Shao Lin, existem muitas lendas; a mais conhecida é da passagem do monge Bodhidharma (Damo) pelo mosteiro. Vigésimo oitavo patriarca do budismo Mahayana (Grande veículo) e primeiro patriarca do budismo Chan (Zen), Bodhidharma nasceu no Ceilão, dentro de uma família nobre, converteu-se ao budismo e mais tarde tornou-se aluno de Prajnatara. Bodhidharma chegou a China em 475, peregrinou por diversos templos ao sul e recolheu-se ao mosteiro de Shao Lin, por volta de 520, para substituir o então abade Bodhiruci.

Bodhidharma ensinou aos monges de Shao Lin os primeiros exercícios respiratórios para aumentar a resistência física e concentração exigidas pelos longos períodos de meditação. Alguns afirmam que mais tarde estes exercícios, combinados a técnicas de combate praticadas na região dariam início as primeiras formas de arte marcial de Shao Lin.

Depois de anos e anos de história, os monges de Shaolin aprenderam técnicas de combate corporal e de armas e desenvolveram técnicas próprias que os tornaram conhecidos e temidos. Os ensinamentos eram reservados aos monges mas em 1650 o então abade Chiu Jin permitiu que leigos aprendessem alguns estilos reservados aos monges. Um dos primeiros destes leigos foi Kan Fon Si, que mais tarde tornou-se um herói na história da China pela luta contra a opressão dos Qing.

O legado marcial de Gan Fenchi passou por quatro gerações até chegar a Ku Yu Cheong, que aprendeu as técnicas oriundas de Shaolin com um amigo do pai. Ku Yu Cheong se tornou famoso pela sua técnica de "palma-de-ferro" e ingressou como instrutor na Academia Central de Nanking em 1928. Lá aprendeu Tai Kek Kuen, Baat Kek Kuen e espada Mou Dong com Li Kin Lam, e Baat Kua Cheong e Yeng Yi Kuen com Sun Lok Tong.

Mais tarde Ku Yu Cheong foi convidado a representar a Academia Central em Cantão juntamente com outros mestres famosos. Mais tarde abriu a sua própria escola e resolveu dar o nome "Shaolin do Norte" às técnicas que ensinava; a explicação para o nome era porque o estilo reunia somente os melhores estilos do norte da China, como : "As dez rotinas de Shaolin", Tai Kek Kuen, Baat Kua Cheong, Yeng Yi Kuen, Tam Toi, Cha Kuen, as armas e o chikung "Pequeno sino de ouro".

Ku Yu Cheong teve diversos alunos, dentre os quais Yim Sheung Mo se destacou consideravelmente. Yim Sheung Mo treinou diretamente com Ku Yu Cheong e pode aprender Luk Hop Kuen e Ji Yin Mun (Zi Ran Men) com Mong Lai Sin. Yim Sheung Mo residiu até o final da sua vida em Hong Kong, onde ensinou a muitos alunos. O que mais se destacou foi Chan Kowk Wai, representante do estilo Shaolin do Norte.

O estilo principal, "As Dez rotinas de Shaolin", se divide em formas de mãos e armas, perfazendo um total de dez formas de mão e mais de vinte e cinco armas diferentes, cada uma com uma ou duas formas aproximadamente. Suas características marcantes são ataques longos e curtos, de mãos e principalmente de pés, cotovelos, rasteiras e quedas. A força e técnica empregadas nos movimentos denotam a eficiência sendo considerado o mais completo de todos os estilos de arte marcial chinesa.

Breve genealogia do Shaolin do Norte
Abade Chiu Jin
朝元和尚
Kan Fon Hsi
甘鳳吃
Man Pon Choi
萬邦才
Yin Ta Kung
嚴徳功
Yin Sam Son
嚴三省
Yin Kai Yun
嚴機溫
Ku Yu Cheong
顧汝章
Yim Sheung Mo
嚴尚武
Chan Kowk Wai
陳國偉

Fonte: sinobrasileira.org

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Choy Lei Fat

Originário do Sul da China, este estilo foi criado por volta do século XIX por Chan Heung (Chen Xiang), nascido em 1806 na aldeia de King Mui, província de Sun Wui, Cantão.

Chan Heung inicou o seu aprendizado com o seu tio, Chan Yuen Wu, que fora aluno dos monges do mosteiro de Fukien (Fujian), com quem treinou por dez anos.

Aos dezessete anos de idade, seu tio o apresentou ao mestre Lei Yau San, que também fora aluno do mosteiro de Fukien e herdeiro dos conhecimentos do monge Lei Shi Kai, representante do estilo Lei Gar e um dos sobreviventes da destruição do mosteiro de Shaolin em 1736.

Após cinco anos de aprendizado com Lei Yau San, Chan Heung foi apresentado a Choy Fok, monge sobrevivente da destruição do mosteiro de Fukien. Chan Heung foi aceito como aluno e aprendeu com Choy Fok conhecimentos de budismo, meditação, medicina tradicional, chi kung e por fim as técnicas marciais de Fukien. Numa demonstração de força, o monge Choy Fok pediu a Chan Heung que deslocasse uma grande pedra com um chute - Chan Heung conseguiu o feito mas Choy Fok foi mais longe e partiu a pedra de mais de cem quilos em duas ...

Retornando a sua cidade natal, Chan Heung recompilou todos os 23 anos de aprendizado num único estilo; O nome do novo estilo se originou da união dos sobrenomes dos seus mestres, Choy (Choy Fok) e Lei (Lei Yau San); a palavra Fat (Buda) foi dado em homenagem aos monges responsáveis pelo desenvolvimento de muitos estilos de arte marcial chinesa. Junto com sua escola, Chan Heung abriu uma clínica médica para cuidar dos doentes menos favorecidos da região.

Existem dois ramos da escola Choy Lei Fat; o Hung Sing (Xiong Sheng), ramo original de Chan Heung difundido e praticado em todo o mundo até hoje e o Bak Sing (Bei Sheng), modificado por Chan On Par (Chen An Bai) e que ganhou notoriedade na década de 20 através de Tam Sam (Dan San).

Composto por movimentos combinados de chutes e socos, rápidos, fortes e curtos, e alguns até simultâneos, a característica singular do Choy Lei Fat são as bases baixas e técnicas de ataques e defesas de muita eficência e objetividade. O estilo Hung Sing possui dez formas de mãos-livres e o Bak Sing três formas de mãos-livres. As armas do estilo são : bastão, bastão-pescador, facão, facas-borboleta, tridente, san tchi kwan, leque, gan e banco.


Breve genealogia do Choy Lei Fat
Chan Yuen Wu
陳遠護
Lei Yau San
李友山
Choy Fook
蔡褔
Chan Heung
陳享
Chang Hung Sing
張鴻勝
Chan Kwan Pak

Chan On Pak

ramo Hung Sing
ramo Bak Sing
Gan Yu Ten

Lou Chan
雷藉
Yan Yin Hu

Tan Sam

Yan You Chin

Yim Sheung Mo
嚴尚武
Chan Kowk Wai
陳國偉
Fonte: sinobrasileira.org

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Grão-mestre Chan Kowk Wai

Nascido em 3 de abril de 1935 na cidade de Taishan, província de Cantão, Chan Kowk Wai iniciou seu treinamento aos quatro anos de idade; ele assistia escondido as aulas de Choy Li Fat ministradas pelo Mestre Chan Cheok Sing aos aldeões. Mestre Chan foi pego por um dos alunos mais velhos e foi levado a presença do mestre, que ao invés de repreendê-lo o aceitou como aluno devido a sua dedicação. Mestre Chan treinou somente o estilo Choy Li Fat até os quatorze anos de idade.
No ano de 1949, quando da proclamação da República Popular da China, Mestre Chan mudou-se com a sua família para Hong Kong, devido a problemas políticos, e lá continuou o seu aprendizado com o seu tio, Ma Kim Fong, mestre de Lo Hon Kuen (um dos muitos estilos criados dentro do Mosteiro de Shao Lin).
O Grão-mestre Yim Sheung Mo mudou-se para Hong Kong pelos mesmos motivos e se hospedou na casa da família de Chan Kowk Wai, e ali estabeleceu a sua escola; assim o jovem Chan teve a oportunidade de aprender o Shao Lin do Norte(Bei Saholin Chuan), durante dez anos. Sua dedicação foi intensa, treinando e aprendendo dia e noite com o Mestre Yim Sheung Mo, e assim Chan Kowk Wai tornou-se herdeiro do estilo Shao Lin Norte, das técnicas de Chi Kung marcial e massagem curativa.
Também tornou-se mestre e herdeiro em outros estilos que aprendeu com mestres apresentados pelo seu mestre Yim Sheung Mo, como : Louva- a - deus Sete Estrelas(Qi Xing Tang Lang) com o Mestre Won Hong Fan, Garra de Águia ( Fan Tsi Ying Chao)com o Mestre Ching Jim Man e Hung Sing Choy Li Fat de Fat San com o mestre e conceituado médico Yim You Chin. Todo o conhecimento adquirido em uma década exigiu grande dedicação e tornou o Grão-mestre Chan Kowk Wai um dos mestres mais respeitados dentro e fora da China.
Chegando em 1960 no Brasil, Grão-mestre Chan participou da formação do Centro Social Chinês, onde ministrou aulas de Kung Fu por doze anos. Grão-mestre Chan Kowk Wai também ministrou aulas na USP durante sete anos.
Em 1970 fundou a Academia Sino-Brasileira de Kung Fu e desde então formou vários professores que perpetuam os conhecimentos por todo o Brasil e em outros países como Espanha, Estados Unidos, Argentina e Chile.
Grão-mestre Chan Kowk Wai leciona diversos estilos de Kung Fu na matriz da Academia Sino-Brasileira, dentre os quais estão : Choy Li Fat, Shao Lin do Norte, Tam Tui, Tcha Chuan, Lo Hap, Lo Hon, Tong Long, Garra de Águia, Xing Yi, Pa Kua, Tai Chi Chuan, Pa Ki e Palma de Ferro.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Como ser admitido Discípulo no Templo Shaolin

Segundo inúmeras lendas e relatos antigos, os novos discípulos eram admitidos no templo no início da primavera, que coincidia com o tempo das grandes chuvas . Nesses dias os pais que desejavam que seus filhos se tornassem monges os levavam ao pátio frontal às escadarias do templo e lá os deixavam sozinhos aguardando que os monges os convidassem a entrar.
Os monges de Shaolin não abriam logo as portas do mosteiro (às vezes demoravam alguns dias) e as crianças eram obrigadas a suportar ao relento o sol e as chuvas torrenciais que costumavam cair nesse período. Muitas das crianças eram conduzidas de voltar por seus próprios pais que não suportavam vê-las sofrer. Embora não abrissem as portas os monges observavam o comportamento das crianças e iam selecionando aquelas que consideravam suficientemente disciplinadas para suportar as árduas exigências do templo de Shaolin.
Quando as portas se abriam os monges mandavam de volta para casa as crianças que consideravam que não suportariam seus ensinamentos. As demais crianças eram admitidas no primeiro pátio interno e conduzidas a uma grande mesa onde já estava sentado um velho monge (geralmente o patriarca do templo).

Quando se sentavam à mesa eram observados seus comportamentos, se pediam comida (podiam estar a três dias sem comer) eram servidas e depois mandadas para suas casas, pois era considerado indecoroso pedir comida ao invés de aguardar o momento de serem servidas. Se corriam para a mesa avidamente, ou apressadamente demais também eram dispensadas.
Às que passavam por esse teste era dado uma tigela sem fundo, uma grande bolacha seca achatada (do tamanho do fundo da tigela) e era servido o chá. O procedimento correto era forrar o fundo da tigela com a bolacha para que pudesse ser servido o chá sobre ela. As crianças que não o faziam eram dispensadas sumariamente, pois não eram consideradas suficientemente inteligentes para aprender os ensinamentos de Shaolin. Se a criança agisse corretamente colocando a bolacha no fundo da tigela mas começasse a tomar o chá antes do monge idoso que estava sentado à mesa, era mandada de volta para casa, pois o respeito aos idosos era de grande importância na cultura chinesa.
Logo em seguida a essa fase lhe era entregue uma vassoura e lhe ordenava que varresse um determinado pátio, mal tivesse terminado de varrer surgia algum monge com os pés enlameados e sujava todo o lugar que havia sido varrido. Assim que o monge porcalhão desaparecia do pátio surgia então o monge que lhe havia ordenado que varresse o lugar e o interpelava mais ou menos assim:
Eu não mandei que você varresse esta sala? Olhe só que imundície! Você é um vagabundo que não obedece as ordens que recebeu! Se o garoto resmungasse que já tinha varrido ou que depois que tinha varrido tinha vindo um monge e sujado tudo outra vez, era mandado embora pois não tinha suficiente dedicação ao trabalho para permanecer no templo Shaolin. O garoto deveria abaixar a cabeça e continuar a varrer sem proferir nenhuma palavra. Este teste da vassoura era repetido diversas vezes como prova da humildade, da paciência e da perseverança do aluno.
Depois que superava os testes iniciais o aluno era submetido a todo tipo de provação, como o teste da limpeza que incluíam lavar as latrinas, retirar a poeira dos imensos arabescos e baixos-relevos que existiam por quase todas as paredes do templo , lavar escadarias e corredores imensos, etc ...
Durante esse período inteiro o aluno passava por periódicas humilhações por parte dos estudantes mais avançados, todas elas com a intenção de testar-lhe a fibra moral e a paciência. Dormia-se poucas horas cada noite e trabalhava-se arduamente. Quando começava a espelhar uma certa frustração ou cansaço, um monge se aproximava dele e lhe indagava há quanto tempo estava no templo. Geralmente o aluno respondia que estava lá há muito tempo; em parte porque não lhes era dado acesso a nenhum calendário que lhes permitisse saber há quanto tempo lá estava; em parte porque estava desejoso de iniciar a prática do Kung-Fu que só era permitida a alunos mais avançados. Mas se a resposta fosse essa, o aluno era deixado entregue a seus afazeres por mais alguns meses. A resposta certa seria: Há bem pouco tempo estou aqui (Mesmo que já fizesse alguns anos que lá estivesse).
Depois desse abandono inicial passava alguns meses e ele era convidado a praticar o Kung-Fu de Shaolin, nas primeiras aulas ele era o saco de pancada dos mais velhos praticantes e as surras eram duríssimas. As práticas ritualísticas e o período de meditação eram ampliados, as refeições eram nas mesas dos refeitórios do templo, era transferido para os dormitórios superiores junto dos alunos mais velhos.
Além dos testes de habilidade física e marcial havia os testes de habilidade artística, geralmente caligrafia e composição poética. Havia também os testes de doutrina budista e de medicina tradicional, os monges eram excelentes acupuntores e massagistas. O trabalho na lavoura também era obrigatório e todo monge tinha que fazer seu estágio na cozinha aprendendo auto-suficiência na arte culinária. Ele deveria ter noções de sobrevivência em condições inóspitas, na selva , no gelo e em terrenos desconhecidos, devendo ser capaz de localizar ervas medicamentosas, preparar infusões curativas, colocar no lugar ossos quebrados, preparar remédios, etc...
O templo de Shaolin era, antes de tudo , uma escola de filosofia e religião e as pessoas que nele ingressavam o faziam com o objetivo de alcançar a realização espiritual. Aos monges que se dedicavam exclusivamente aos estudos doutrinários e às práticas espirituais era facultada a saída do templo desde que em missões administrativas ou de caridade ao povo.
Mas aos monges que haviam escolhido o caminho da Arte Marcial somente era permitida sua saída se distinguissem de maneira incomum na arte de lutar. Se fosse capaz de vencer os instrutores dos cinco estilos principais de Shaolin poderia requerer a prova do corredor da morte (Os cento e oito bonecos de madeira que eram acionados pelo peso de quem se atrevesse a penetrá-los). Se o monge que os enfrentasse conseguisse sobreviver ao corredor, deveria levantar uma Urna Incandescente para poder sair pela única porta do recinto.
Nas laterais da Urna havia em alto-relevo as figuras dos Cinco Animais de Shaolin que simbolizavam os principais estilos de Kung-Fu do Templo. Quem quer que tivesse superado os 108 homens de madeira do corredor da morte teria que levantar a urna para poder sair. A porta permanecia aberta por uns poucos momentos, e se o monge desmaiasse no processo ou não se atirasse para fora com certa rapidez, arriscava-se a perder todos seus esforços.
Hoje em dia é muito fácil só pagamos a mensalidade para aprendermos o Kung-Fu de Shaolin, e mesmo assim tem alunos que se enchem de razão quando o professor chama-lhes a atenção, não bastando isso vão embora da academia falando mal de seu professor, tudo isso pela falta de educação que se traz de casa culpa da educação ocidental e do capitalismo, se você lhes da uma vassoura se ofendem, se manda limpar os aposentos da academia parece que caiu um pedaço deles e muito mais eu tenho visto nestes 20 anos de Kung-Fu, a primeira coisa que o aluno diz é (Eu estou pagando para aprender o Kung-Fu e não para ser faxineiro da academia). Estes são os Shaolin da atualidade cheios de razão e falta de educação. É mais fácil trocar de academia do que tentar aprender a ser mais humilde e perseverante ou seja um ser humano melhor na sociedade em que você vive.

REINALDO BADE
Professor de Shaolin do Norte
Florianópolis- SC