quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

A História do Shuaijiao

Shuai Jiao é o termo chinês moderno para luta greco-romana que tem sua origem de antes da China antiga. É também um termo que se refere especificamente para estilos de luta Chinesas e Mongóis. Ambos estilos tem um longo período de história e tem se submetido a modernização através do nome, forma e esporte. O mais conhecido como “avô” e promotor do moderno Shuai Jiao através do mundo é Grão-mestre Chang Dong Sheng também conhecido como “borboleta voadora”. Ele é conhecido pelo seu perfeito recorde em torneios e por seu estilo de luta “Bao Ding Kuai Jiao”, que religiosamente praticou para aperfeiçoar seu chute e poderosos arremessos.

Shuai Jiao não foi sempre o termo usado para este estilo de luta chinesa. O termo usado anteriormente era 角抵 (pinyin: Jiăodĭ), que significa literalmente “chifrar ou dar chifrada”, o qual mudou de nome várias vezes antes de se transformar no termo atual. A origem do Shuai Jiao tem 4000 anos de história e é a forma mais antiga conhecida de arte marcial e esporte de luta no mundo.

O Imperador Dourado:

A percepção da origem do Shuai Jiao vem da china durante o reino do Lendário Imperador Huang Di, de 2697a.C. Até 2598a.C.. Foi durante seu tempo no governo que uma épica batalha tomou lugar entre ele e Chi-You, o líder mitológico de Hmong. As duas mais poderosas tribos batalharam junto com seus aliados pelo território do Rio Amarelo da China por dias sem descansar até que uma névoa repentina e uma forte tempestade tomou todo o campo de batalha. Huang Di e seus homens lutaram bravamente até que a tempestade eletrocutou todos os homens de Chi-You que usavam uns capacetes com chifre que diziam ser a assinatura dele.

Através dos anos durante o governo de Huang Di, houveram festivais onde as representações da batalha legendária foi parte das principais festividades. Dizem que nas primeiras demonstrações de combate mão a mão, onde uma pessoa usava um capacete com um chifre representando o inimigo, eles se atacavam e o lado vencedor representado por um soldado tentava desequilibrar o adversário usando suas técnicas de arremesso e por fim derrotando. Essa demonstração de luta mais tarde passou a ser um esporte chamado Jiaodi(角抵) que seria praticado por muito tempo depois. Por causa dessas representações o Jiaodi se tornou um evento regular em festivais e banquetes.

O nascimento do Kung Fu:

Durante a dinastia Zhou(1046 a.C. - 221 a.C.) o esporte ganhou um novo nome, Jaoli (角力) e se tornou a forma de combate oficial usado por soldados por todo o país. Jiaoli agora é considerada a mais antiga forma marcial sistemática Chinesa no mundo. Jiaoli foi complementado com técnicas de finalização, bloqueios, torções e ataques em pontos de pressão. O esporte se tornou uma arte marcial completa que mais tarde virou popular e altamente competitiva.

Apesar de a dinastia Qin(221 a.C. - 206 a.C.) ter durado apenas o tempo de uma única monarquia, Jiaoli foi incansavelmente treinado para manter as forças militares fortes e prontas contra forças invasoras. Os treinamentos foram usados para entreter a corte imperial e também para recrutar os melhores lutadores como guarda-costas do imperador e instrutores do exército imperial. Depois disto cada adulto do sexo masculino teria que servir pelo menos um ano no exército imperial, Jiaoli se tornou uma técnica bastante difundida que até mesmo camponeses e fazendeiros poderiam entender o básico junto com suas aplicações. Durante essa época, também era conhecido como “Hsian Pu(相撲)”, “Kwang Chiao(慣跤)”, “Liao Chiao(撩跤)”, e outros incontáveis nomes. Esse momento poderia ser também o período de introdução de uma das primeiras formas de competição, o Leitai(擂臺), onde as pessoas ficam em plataformas levantadas ou estádios competindo. Dizem que essas competições poderiam durar semanas com milhares de competidores vindos de todos os cantos do império. Isso é especialmente verdade durante a dinastia Han(206a.C. - 220 d.C.) na qual o esporte foi proclamado oficial e permanentemente nobre e o nome mudou para Jiaodi(角抵). Com os esportes crescendo em popularidade, a base do Jiaodi poderia se tornar a fundação de muitas, se não todas, diferentes formas e estilos de arte marcial Chinesa.

A Evolução do Shuaijiao:

Uma das muitas diferenças da dinastia Yuan(1271 d.C – 1368d.C.) para as outras é que foi comandada por Mongóis. Os Mongóis eram guerreiros que viviam como nômades e adoravam seus jogos tribais. Esses jogos incluiam montaria, competição de arco e flecha e combate de contato. A premissa do combate de contato Mongol, conhecido como Böhke, é forçar o oponente a tocar qualquer parte do seu corpo no chão que não seja o pé, colocando ele em uma posição de inferioridade. Essas habilidades criadas pelos Mongóis se provaram eficientes nos seus combates épicos pela Ásia, ganhando a reputação dos mais ferozes e poderosos guerreiros deste tempo. Esses poderosos movimentos e técnicas dizem ter influenciado as mais conhecidas e poderosas técnicas na evolução do combate de contato Chinês.

Enquanto a soberania Chinesa estava sendo restabelecida durante a dinastia Ming(1368 d.C. - 1644 d.C.), as artes marciais Chinesas começaram a prosperar no exterior à uma taxa crescente nos territórios estrangeiros. Essa é a hora na qual o mais antigo mestre de ShuaiJiao, Chen Yuan-Ping, trouxe o combate de contato chinês para a ilha vizinha ao japão. É reconhecido que os conhecimentos íntimos de Chen sobre os arremessos, torções e controles do ShuaiJiao formaram o básico do que se tornaria Jiu-Jitsu o qual depois evoluiria para Judo e Aikido.

A última dinastia, a dinastia Qing(1644 – 1911 d.C.) caiu nas mãos de Manchu e a esperança para soberania Chinesa vagarosamente começou a decair. Manchu foi o maior responsável pela queda da China por particionamento de seus territórios para influências estrangeiras. Embora as vezes pode parecer sombrio, ShuaiJiao continua aproveitando outra era de progresso e desenvolvimento e sua popularidade entre os militares de Manchu garantiu mais tarde sua influência nas artes marciais Chinesas até o fim da dinastia Qing . Isto foi quando o imperador deste tempo construiu Shan Pu Ying (acampamento dos grandes lutadores), dedicado a arte do ShuaiJiao. Sempre haviam mais de 200 lutadores no acampamento e indiscutivelmente subia para 300 em algumas épocas. O avanço do Shuaijiao foi tão espantoso que chegou a um ponto onde praticamente quando você era tocado basicamente já tinha perdido por causa do nível das técnicas dos lutadores, os oponentes nada podiam fazer para prevenir a derrota. Esse estilo praticado e dominado é primeiramente conhecido como Kuai Jiao que significa “luta rápida”. O estilo posterior e derivado deste foi conhecido como Bao Ding Kuai Jiao. Bao Ding refere-se a uma famosa cidade em Hebei, província vizinha a capital da China, Beijing.

Em ordem de manter boas relações além da grande muralha, o Imperador convidou os aliados para conhecer as técnicas do Shuaijiao. O Imperador participou das aberturas dos jogos tanto por ser um grande fã quanto por ser um praticante da arte. Durante a queda da dinastia Qing, o acampamento Shan Pu Ying não era mais sustentado pelo governo então os lutadores profissionais de Shuaijiao se dispersaram pelo país abrindo suas próprias escolas de Shuajiao. As conseqüências desses eventos levaram ao aumento da população de praticantes do Shuaijiao mas também diluiu a concentração de técnicas que o acampamento Shan Pu Ying oferecia aos grandes lutadores.

Os maiores lutadores vieram das áreas mais importantes como Mongolia, Bao Ding, Bejing e Tienjing. Isto levou a República da China a estabelecer o Instituto de Kuo Shu para introduzir o Shuaijiao a um nível geral pelo sul da China. O maior mestre e o mais famoso lutador desse tempo foi Ping Ching Yi e seu estudante Chang Fong Yen.

O nascimento do Shuaijiao contemporâneo:

Em 1919, na província de Shang-tung, o general Ma Liang reuniu um time de técnicas concentradas de Kung Fu e escreveu um livro de artes marciais Chinesas. Uma das três categoras do livro foi o Shuaijiao. Ma Liang aprendeu Shuaijiao com o melhor aluno de Ping Ching Yi, Chang Fong Yen que naquela mesma época reuniu os maiores mestres de Shuaijiao e escreveu o primeiro livro sobre Shuaijiao na China.

Em 1928 o Instituto de Kuo Shu(CKSI) criado pelo governo da República da China em Nanjing, dividiu as artes de luta em 4 categorias, elas eram Shuaijiao, técnicas de punho, sistemas de armas e técnicas com arco. Através desta organização o governo tentava treinar e criar a mais eficiente arte marcial. Foi neste tempo que o Shuaijiao renasceu, com um tremendo interesse da poupulação. Foi também neste tempo que o Shuaijiao adotou o nome oficial que conhecemos hoje.

Entre 1928 e 1933 a CKSI patrocinou 5 testes nacionais de Kung Fu. Os participantes foram divididos em categorias de peso. Eles eram testados na escrita em seis diferentes temas e testados quanto a sua performance em seis diferentes categorias de artes marciais. Eles também trabalharam no treinamento de árbitros e na unificação das regras. Foi quando as artes marciais se tornaram uma especializada e avançada entidade para toda a nação.

Shuaijiao passou por vários picos e baixas desde sua criação devido a conflitos, tempos economicamente difíceis e forças políticas. No entanto muitos eventos mundiais renderam surpreendente desenvolvimento ao Shuaijiao. Escolas ainda continuam sendo criadas e os ensimentos estão virando febre mundial. Como podemos ver hoje Shuaijiao ainda vive como um treinamento primário para os militares e policiais na China e Taiwan. Uma das principais razões do porque Shuaijiao moderno se espalhou mundialmente entre 1970 e 1980 foi por causa da grande influência e marcante conhecimento do Grão Mestre Chang Tung Sheng.


Traduzido do Site http://shuaijiaonation.com por Lucas Cavalcanti.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Luk Hop Kuen

Chamado de seis uniões, ou seis harmonias, o Luk Hop Kuen foi criado dentro do Mosteiro de Shao Lin.

O conceito "físico" das seis uniões é muito amplo e utilizado de forma geral em muitos estilos de arte marcial chinesa, no que diz respeito às seis articulações do corpo humano; articulação do pulso, cotovelo, ombro, tornozelo, joelho e bacia. Este conceito se aplica de duas formas : na prática constante do alinhamento perfeito destas articulações para que a técnica possa ser executada com perfeição e o golpe tenha força total, e na segunda forma, em que o ataque seja dirigido a uma destas articulações.

O conceito "imaterial" das seis uniões envolve o uso da energia vital Chi, e se aplica no seguinte ditado do Luk Hop Kuen :
"Os olhos acompanham a mente, a mente acompanha o Chi,
O Chi acompanha o corpo, o corpo acompanha as mãos,
As mãos acompanham os pés, e os pés acompanham os quadris."

Alguns estudiosos fazem um elo do Luk Hop Kuen com o Yeng Yi Kuen (形意拳), tanto nos conceitos de aplicação de força Ging (勁) como na movimentação, dinâmica e utilização do conceito das "seis uniões".

Movimentos fortes, com pisões, alternando técnicas de chutes e socos, faz do Luk Hop Kuen um estilo poderoso, com uma ampla gama de possíveis movimentos de ataque e contra-ataque, alternando entre movimentos suaves e explosivos.





Lok Hop Kuen brief genealogy
Liu Gan Yue
劉鎮
Chiu Yam Chao
趙鑫洲
Mong Lai Sing
萬籟聲
Yim Sheung Mo
嚴尚武
Chan Kowk Wai
陳國偉

Lo Hon Kuen

Estilo originário do Monastério de Shao Lin, a data da sua criação é totalmente imprecisa, já que as suas técnicas se misturam com algumas formas de outros estilos oriundos do próprio mosteiro.

Praticado apenas pelos monges responsáveis pela proteção do Monastério e dos salões de meditação, Luo Han se traduz para arhat ou arahat (em sânscrito, merecedores, ou dignos e merecedores). Os arhats são monges da corrente budista Hinayana que já alcançaram o Nirvana (objetivo do budismo - iluminação), se libertando de futuras encarnações, sendo desta forma os defensores e protetores do Dharma.

São dezoito arhats, sendo dezesseis indianos e dois chineses, e os seus nomes são : 1. Pindola, o Bharadvaja; 2. Kanaka, o Vatsa; 3. Pindola (segundo); 4. Nandimitra; 5. Vakula; 6. Tamra Bhadra; 7. Kalika; 8. Vajraputra; 9. Gobaka; 10. Panthaka; 11. Rahula; 12. Nagasena; 13. Angida; 14. Vanavasa; 15. Asita; 16. Pantha; 17. Ajita e 18. Pindola (Polotoshe).

Em muitos templos, podemos encontrar nas entradas das salas de meditação estátuas dos arhats, como que num aviso de que os protetores do Dharma estão em todos os lugares, e atentos a tudo.

Estilo composto por técnicas corporais, os movimentos de ataque e defesa são rápidos, objetivos e precisos. As técnicas exigem flexibilidade e força para a sua execução.

Chat Seng Tong Long Kuen (Louva-deus Sete-estrelas)

Estilo muito popular e difundido em todo o mundo, foi criado em torno de 1640 por Wong Long. Natural da província de Shandong, Wong Long já possuía conhecimento de técnicas de esgrima e lutava contra a opressão da dinastia Ming. Por este motivo, Wong Long viajava por toda China em busca de novas e eficientes técnicas de combate. Wong Long viajou por muitos lugares, estando e treinando durante um tempo no mosteiro de Shaolin em Henan.

A lenda que deu origem ao louva-a-deus se deu quando Wong Long perdeu um combate para um monge seu colega. Confuso e perplexo com a derrota, Wong Long meditava desesperadamente, a procura de uma solução para melhorar as suas técnicas de combate. Num destes momentos de meditação, Wong Long foi distraído pelo combate entre um louva-deus e uma cigarra. O louva-a-deus, menor e mais frágil, derrotou a cigarra em poucos instantes. Wong Long capturou o louva-a-deus e começou a observar os movimentos do animal, repetindo-os passo a passo e adaptando para o combate, criando assim um estilo de arte marcial chinesa eficiente.

Com o passar dos anos, o legado de Wong Long foi aperfeiçoado e desenvolvido por diversos mestres de renome, o que deu surgimentoe formação de vários estilos de Louva-a-deus: Chat Seng (sete estrelas), Mui Fah (Flor de ameixa), Baan Gwong (Tábua brilhante), Lok Hap (seis coordenações), Tai Kek (Supremo), Bei Mun (recluso), Baat Bo (oito passos), Jeung Kuen (Punho longo), Tung Bei () e outros menos conhecidos.

O maior nome do Louva-deus foi o Grão-mestre Wong Hon Fan, que ensinou o estilo durante muitos anos na Associação de Artes Marciais de Hong Kong, formando muitos professores.

O Chat Seng Tong Long Kuen possui aproximadamente trinta formas de mãos livres e seis formas de armas, e as suas técnicas são compostas por movimentos rápidos, curtos e precisos, onde o atacante penetra por dentro da guarda do adversário, utilizando técnicas de socos, cotoveladas e chutes curtos, que quase sempre culminam com a projeção do adversário ao solo.

Breve genealogia do Louva-deus Sete-estrelas
Wong Long
王朗
Seng Siu Tou Yan
升道人
Lei Sam Chin
李三
Wong Wing Shan
黃榮生
Fan Cok Tung
范旭東
Lo Kwong Yuk
羅光玉
Wong Hon Fan
黃漢勳
Chan Kowk Wai
陳國偉

Fan Chi Ying Jaau (Garra de Águia)

Criado em torno de 1149 por Li Quan Seng (Lai Chun) , o estilo Fan Zi Ying Zhao (Garra de Águia) tem o seu nome, como muitos outros estilos que fazem referencias a animais, diante da diversidade do treinamento de técnicas de Qinna (imobilizações e torções) que sugerem a agilidade, força e precisão da águia.

Famoso por suas 108 técnicas de chaves e pegas, os treinamentos específicos para desenvolver a força das mãos e braços do praticante, em conjunto com as técnicas das formas existentes dentro do estilo, o praticante poderá imobilizar o seu adversário sem o menor esforço. Combinadas com ataques de mão e pernas, as chaves tornam-se mais úteis ainda para complementar o estilo.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Tam Toi (Tam Tui)

O Tam Toi tem origens no século XVII, mais provavelmente dentro da etnia Hui (muçulmanos), juntamente com outro estilo classificado como "punho long" chamado Cha Kuen. Alguns historiadores também atribuem a criação do Tam Toi aos monges do templo budista Longtan (Lago ou poço do dragão), localizado em Jiyuan.

Outra corrente de pesquisadores e historiadores afirma que o estilo sofreu influência por parte do mosteiro de Shaolin.

O estilo era dividido originalmente em um grande conjunto de rotinas com socos, chutes e rasterias mas hoje é dividido em dois grupos, um com dez formas e o outro com doze formas, cada uma com elementos distintos, e se caracteriza pela repetição retilínea predominante de movimentos executados sempre para ambos os lados. Os chutes fortes abaixo da cintura são a principal característica deste estilo, originando daí o seu nome, Tan Tui (Pernas que saltam).

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Yeng Yi Kuen (Hsing I)

Criado em torno de 1600 por Kee Lung Fong, o Yeng Yi Kuen tem as suas origens no estilo Luk Hop Kuen, originário do Mosteiro de Shao Lin. Kee Lung Fong, especialista nas técnicas de combate com a lança, criou um estilo próprio de combate usando somente as mãos e os pés, e o ensinou para algumas pessoas; porém o estilo se tornou conhecido através de Kwok Wan Sam (Guo Yun Shen), mestre e herdeiro da quinta geração do Yeng Yi Kuen.

Existem muitas escolas de Yeng Yi Kuen, cada uma com características distintas, mas as três principais são Hebei, Shanxi e Henan.

A movimentação das formas do Yeng Yi Kuen são predominantemente lineares; o praticante movimenta-se coordenando o corpo todo durante a execução das formas. As mãos, os pés e o tronco se movimentam em conjunto, e a cabeça, mãos e pés estão sempre alinhados pelo mesmo eixo vertical. Os braços ficam posicionados em frente ao corpo e o praticante sempre deve estar sempre alinhado com parte frontal do adversário. Existem algumas técnicas de chute dentro do estilo.

É dada grande ênfase na habilidade de gerar energia com o corpo inteiro e direcioná-la em uma única descarga, liberada num único movimento explosivo. As técnicas possuem características agressivas e o praticante de Yeng Yi Kuen prefere se movimentar para dentro do adversário, com um ataque fulminante e decisivo na primeira oportunidade. O estilo prima pela economia de movimentos e o conceito de ataques e defesas simultâneos. Como está implícito no nome, a forma ou sequência dos movimentos é só uma manifestação física do intento do praticante. O princípio fundamental de todas as escolas e estilos de Yeng Yi Kuen é de que a mente controla tudo e guia os movimentos do corpo.



Breve genealogia do Yeng Yi Kuen
Ki Lung Fan
姬隆風
Dai Long Bang
戴龍邦
Li Luo Neng
李洛能
Guo Yun Shen
郭雲深
Li Kui Yuan
李奎源
Sun Lok Tong
孫祿堂
Ku Yu Cheong
顧汝章
Yim Sheung Mo
嚴尚武
Chan Kowk Wai
陳國偉

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Baat Kua Cheong (BaGua)

O Baat Kua Cheong é baseado na teoria dos Oito Trigramas do Livro das Mutações (Yi Jing, ou popularmente I Ching). Ao executar as formas do estilo, o praticante se movimenta dentro de um círculo imaginário, alternando padrões de movimentação retilínea e circular de oito passos; as formas do Baat Kua Cheong são extremamente complexas e longas.

Criado durante a dinastia Qing (1644 a 1912), a identidade do seu verdadeiro criador é obscura. Tem-se registro de que o primeiro mestre de renome a difundir o Baat Kua Cheong abertamente foi Dong Hai Chuan, e o estilo se tornou popular através de dois de seus alunos : Cheng Ting Hua e Yin Fu. Sun Lu Tang também contribuiu de forma significativa para o desenvolvimento e difusão do Baat Kua Cheong na era moderna.

As técnicas são semelhantes as do Tai Kek Kuen e incluem ataques de mão aberta e fechada, torções e chaves, chutes, rasteiras e projeções (quedas). As formas predominantes são as de mãos livres mas o estilo conta com formas de armas (lança, espada, facão, e facas rabo-de-peixe).

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Tai Kek Kuen (Tai Chi Chuan)

A criação do Tai Kek Kuen é cercada por diversas lendas que foram passadas adiante através do tempo. Uma delas, onde um monge taoísta do século 12, chamado Zhang San Feng foi visitado pelo "Espírito da Montanha Mou Tong", que o ensinou as técnicas de artes marciais que mais tarde seriam conhecidas como o Tai Kek Kuen. Apesar de todas as lendas, a história coerente a ser traçada numa linha do tempo encontra suas origens no condado de Wenxian, na província de Henan. Chen Wangting, do vilarejo de Chen Jiagou, e Jiang Fa, que estudou artes marciais em Shanxi e morou na vila de Xiaoliu, ambos de Wenxian.

Independente do verdadeiro criador, o Tai Kek Kuen encerra três princípios básicos :
1. A assimilação do fundamentos e a prática em formas tradicionais de Wushu. Os fundamentos do Tai Kek Kuen possuem muitas posturas e movimentos encontrados em outras artes marciais tradicionais chinesas da época.

2. A assimilação dos métodos tradicionais de cultivo da saúde. O Tai Kek Kuen demonstra ser um dos mais recentes desenvolvimentos dentro do processo gradual que se extendeu por séculos, combinando o wushu com formas tradicionais de exercícios internos, meditação e exercícios calistênicos para melhorar a saúde e atingir a longevidade. Estes envolviam relaxamento, concentração e técnicas respiratórias. Muitos destes elementos podem ser vistos dentro do Tai Kek Kuen.

3. A assimilação das teorias clássicas de medicina e filosofia. O Tai Kek Kuen, como muitos dos exercícios acima mencionados, adotou as teorias tradicinais da medicina chinesa para promover o Qi, ou energia vital, que circula pelo corpo humano para assegurar um ótimo funcionamento para os orgãos internos. Quanto a parte filosófica, o Tai Kek Kuen está intrínssicamente ligado ao Ba Gua e outras tradições taoístas.

Apenas os estilos abaixo são reconhecidos oficialmente como estilos tradicionais de arte marcial chinesa. Existem outros estilos de Tai Kek Kuen, como os simplificados (de 24, 48, 66 e 88 movimentos) que têm por base o estilo Yang, mas não são tradicionais.

Estilo Chen - Esta é a forma original do Tai Kek Kuen, proveniente de Henan, desenvolvida pela família Chen e só chegou em Beijing em 1928. Este estilo ainda mantém alguns dos saltos, pisões, explosões de energia e movimentos fortes e graciosos. Com muitas voltas e torções, a sua prática é difícil e cansativa.

Estilo Yang - Desenvolvida a partir do estilo Chen por Yang Luchan, a forma existente nos dias de hoje foi desenvolvida pelo seu neto, Yang Chengfu. Sendo o estilo mais popular e conhecido na China e no resto do mundo, os seus movimentos são proporcionais e relaxados.

Estilo Wu - Desenvolvido em Beijing por Wu Quanyou e o seu filho, Wu Jianquan, baseada na prática do estilo Yang por ambos. Desbancada pela popularidade da escola Yang, a escola Wu têm os seus movimentos como suaves, lentos e compactos.

Estilo Hao - Desenvolvido originalmente por Wu YuXiang que estudou em Henan o estilo da família Chen. Hao Weizhen, discípulo de de Wu, levou o estilo até Beijing. Suas características principais são a simplicidade e clareza, nos movimentos lentos, suavez e compactos, bases mais altas e caminhar restrito.

Estilo Sun - No final da dinastia Qing, Sun Lutang estudou Xingyi Quan, Bagua Zhang, e, em seguida, Tai Kek Kuen estilo Hao e assim desenvolveu o seu próprio estilo. Os movimentos são ligeiros e leves, utilizando métodos de abrir e fechar as mãos. Uma característica marcante do estilo Sun é a ligeira movimentação de base.


Breve genealogia do Tai Kek Kuen
Chan Ching Han
陳長興
Yeung Lo Hsin
楊露禪
Yeung Pan How
楊班侯
Yeung Kim How
楊侯
Li Kim Lam
李景林
Ku Yu Cheong
顧汝章
Yim Sheung Mo
嚴尚武
Chan Kowk Wai
陳國偉

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Bak Siu Lam Kuen Mun (Shaolin do Norte)

Um dos estilos mais famosos e conhecidos, o Shao Lin Norte foi criado a partir de técnicas desenvolvidas dentro do Mosteiro Budista de Shao Lin.

Fundado em 495 pelo Imperador Xiao Wen (471 a 500), o mosteiro de Shao Lin foi construído bem próximo a uma floresta (Shao = jovem; Lin = floresta) no sopé da montanha Song, na província de Henan, entre as cidade de Zhengzhou e Luoyang (antiga capital do império chinês), ao norte do Rio Amarelo (Huang He).

O primeiro abade foi o monge indiano Badhra (Batuo), e o único propósito do mosteiro de Shao Lin era de se tornar o mais importante centro para o estudo, desenvolvimento e ensino do budismo em toda a Ásia. Considerado também como centro de peregrinação, o mosteiro de Shao Lin recebeu monges budistas de toda a Ásia (Índia, Ceilão, Pérsia).

No que diz respeito às artes marciais chinesas e o mosteiro de Shao Lin, existem muitas lendas; a mais conhecida é da passagem do monge Bodhidharma (Damo) pelo mosteiro. Vigésimo oitavo patriarca do budismo Mahayana (Grande veículo) e primeiro patriarca do budismo Chan (Zen), Bodhidharma nasceu no Ceilão, dentro de uma família nobre, converteu-se ao budismo e mais tarde tornou-se aluno de Prajnatara. Bodhidharma chegou a China em 475, peregrinou por diversos templos ao sul e recolheu-se ao mosteiro de Shao Lin, por volta de 520, para substituir o então abade Bodhiruci.

Bodhidharma ensinou aos monges de Shao Lin os primeiros exercícios respiratórios para aumentar a resistência física e concentração exigidas pelos longos períodos de meditação. Alguns afirmam que mais tarde estes exercícios, combinados a técnicas de combate praticadas na região dariam início as primeiras formas de arte marcial de Shao Lin.

Depois de anos e anos de história, os monges de Shaolin aprenderam técnicas de combate corporal e de armas e desenvolveram técnicas próprias que os tornaram conhecidos e temidos. Os ensinamentos eram reservados aos monges mas em 1650 o então abade Chiu Jin permitiu que leigos aprendessem alguns estilos reservados aos monges. Um dos primeiros destes leigos foi Kan Fon Si, que mais tarde tornou-se um herói na história da China pela luta contra a opressão dos Qing.

O legado marcial de Gan Fenchi passou por quatro gerações até chegar a Ku Yu Cheong, que aprendeu as técnicas oriundas de Shaolin com um amigo do pai. Ku Yu Cheong se tornou famoso pela sua técnica de "palma-de-ferro" e ingressou como instrutor na Academia Central de Nanking em 1928. Lá aprendeu Tai Kek Kuen, Baat Kek Kuen e espada Mou Dong com Li Kin Lam, e Baat Kua Cheong e Yeng Yi Kuen com Sun Lok Tong.

Mais tarde Ku Yu Cheong foi convidado a representar a Academia Central em Cantão juntamente com outros mestres famosos. Mais tarde abriu a sua própria escola e resolveu dar o nome "Shaolin do Norte" às técnicas que ensinava; a explicação para o nome era porque o estilo reunia somente os melhores estilos do norte da China, como : "As dez rotinas de Shaolin", Tai Kek Kuen, Baat Kua Cheong, Yeng Yi Kuen, Tam Toi, Cha Kuen, as armas e o chikung "Pequeno sino de ouro".

Ku Yu Cheong teve diversos alunos, dentre os quais Yim Sheung Mo se destacou consideravelmente. Yim Sheung Mo treinou diretamente com Ku Yu Cheong e pode aprender Luk Hop Kuen e Ji Yin Mun (Zi Ran Men) com Mong Lai Sin. Yim Sheung Mo residiu até o final da sua vida em Hong Kong, onde ensinou a muitos alunos. O que mais se destacou foi Chan Kowk Wai, representante do estilo Shaolin do Norte.

O estilo principal, "As Dez rotinas de Shaolin", se divide em formas de mãos e armas, perfazendo um total de dez formas de mão e mais de vinte e cinco armas diferentes, cada uma com uma ou duas formas aproximadamente. Suas características marcantes são ataques longos e curtos, de mãos e principalmente de pés, cotovelos, rasteiras e quedas. A força e técnica empregadas nos movimentos denotam a eficiência sendo considerado o mais completo de todos os estilos de arte marcial chinesa.

Breve genealogia do Shaolin do Norte
Abade Chiu Jin
朝元和尚
Kan Fon Hsi
甘鳳吃
Man Pon Choi
萬邦才
Yin Ta Kung
嚴徳功
Yin Sam Son
嚴三省
Yin Kai Yun
嚴機溫
Ku Yu Cheong
顧汝章
Yim Sheung Mo
嚴尚武
Chan Kowk Wai
陳國偉

Fonte: sinobrasileira.org

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Choy Lei Fat

Originário do Sul da China, este estilo foi criado por volta do século XIX por Chan Heung (Chen Xiang), nascido em 1806 na aldeia de King Mui, província de Sun Wui, Cantão.

Chan Heung inicou o seu aprendizado com o seu tio, Chan Yuen Wu, que fora aluno dos monges do mosteiro de Fukien (Fujian), com quem treinou por dez anos.

Aos dezessete anos de idade, seu tio o apresentou ao mestre Lei Yau San, que também fora aluno do mosteiro de Fukien e herdeiro dos conhecimentos do monge Lei Shi Kai, representante do estilo Lei Gar e um dos sobreviventes da destruição do mosteiro de Shaolin em 1736.

Após cinco anos de aprendizado com Lei Yau San, Chan Heung foi apresentado a Choy Fok, monge sobrevivente da destruição do mosteiro de Fukien. Chan Heung foi aceito como aluno e aprendeu com Choy Fok conhecimentos de budismo, meditação, medicina tradicional, chi kung e por fim as técnicas marciais de Fukien. Numa demonstração de força, o monge Choy Fok pediu a Chan Heung que deslocasse uma grande pedra com um chute - Chan Heung conseguiu o feito mas Choy Fok foi mais longe e partiu a pedra de mais de cem quilos em duas ...

Retornando a sua cidade natal, Chan Heung recompilou todos os 23 anos de aprendizado num único estilo; O nome do novo estilo se originou da união dos sobrenomes dos seus mestres, Choy (Choy Fok) e Lei (Lei Yau San); a palavra Fat (Buda) foi dado em homenagem aos monges responsáveis pelo desenvolvimento de muitos estilos de arte marcial chinesa. Junto com sua escola, Chan Heung abriu uma clínica médica para cuidar dos doentes menos favorecidos da região.

Existem dois ramos da escola Choy Lei Fat; o Hung Sing (Xiong Sheng), ramo original de Chan Heung difundido e praticado em todo o mundo até hoje e o Bak Sing (Bei Sheng), modificado por Chan On Par (Chen An Bai) e que ganhou notoriedade na década de 20 através de Tam Sam (Dan San).

Composto por movimentos combinados de chutes e socos, rápidos, fortes e curtos, e alguns até simultâneos, a característica singular do Choy Lei Fat são as bases baixas e técnicas de ataques e defesas de muita eficência e objetividade. O estilo Hung Sing possui dez formas de mãos-livres e o Bak Sing três formas de mãos-livres. As armas do estilo são : bastão, bastão-pescador, facão, facas-borboleta, tridente, san tchi kwan, leque, gan e banco.


Breve genealogia do Choy Lei Fat
Chan Yuen Wu
陳遠護
Lei Yau San
李友山
Choy Fook
蔡褔
Chan Heung
陳享
Chang Hung Sing
張鴻勝
Chan Kwan Pak

Chan On Pak

ramo Hung Sing
ramo Bak Sing
Gan Yu Ten

Lou Chan
雷藉
Yan Yin Hu

Tan Sam

Yan You Chin

Yim Sheung Mo
嚴尚武
Chan Kowk Wai
陳國偉
Fonte: sinobrasileira.org

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Grão-mestre Chan Kowk Wai

Nascido em 3 de abril de 1935 na cidade de Taishan, província de Cantão, Chan Kowk Wai iniciou seu treinamento aos quatro anos de idade; ele assistia escondido as aulas de Choy Li Fat ministradas pelo Mestre Chan Cheok Sing aos aldeões. Mestre Chan foi pego por um dos alunos mais velhos e foi levado a presença do mestre, que ao invés de repreendê-lo o aceitou como aluno devido a sua dedicação. Mestre Chan treinou somente o estilo Choy Li Fat até os quatorze anos de idade.
No ano de 1949, quando da proclamação da República Popular da China, Mestre Chan mudou-se com a sua família para Hong Kong, devido a problemas políticos, e lá continuou o seu aprendizado com o seu tio, Ma Kim Fong, mestre de Lo Hon Kuen (um dos muitos estilos criados dentro do Mosteiro de Shao Lin).
O Grão-mestre Yim Sheung Mo mudou-se para Hong Kong pelos mesmos motivos e se hospedou na casa da família de Chan Kowk Wai, e ali estabeleceu a sua escola; assim o jovem Chan teve a oportunidade de aprender o Shao Lin do Norte(Bei Saholin Chuan), durante dez anos. Sua dedicação foi intensa, treinando e aprendendo dia e noite com o Mestre Yim Sheung Mo, e assim Chan Kowk Wai tornou-se herdeiro do estilo Shao Lin Norte, das técnicas de Chi Kung marcial e massagem curativa.
Também tornou-se mestre e herdeiro em outros estilos que aprendeu com mestres apresentados pelo seu mestre Yim Sheung Mo, como : Louva- a - deus Sete Estrelas(Qi Xing Tang Lang) com o Mestre Won Hong Fan, Garra de Águia ( Fan Tsi Ying Chao)com o Mestre Ching Jim Man e Hung Sing Choy Li Fat de Fat San com o mestre e conceituado médico Yim You Chin. Todo o conhecimento adquirido em uma década exigiu grande dedicação e tornou o Grão-mestre Chan Kowk Wai um dos mestres mais respeitados dentro e fora da China.
Chegando em 1960 no Brasil, Grão-mestre Chan participou da formação do Centro Social Chinês, onde ministrou aulas de Kung Fu por doze anos. Grão-mestre Chan Kowk Wai também ministrou aulas na USP durante sete anos.
Em 1970 fundou a Academia Sino-Brasileira de Kung Fu e desde então formou vários professores que perpetuam os conhecimentos por todo o Brasil e em outros países como Espanha, Estados Unidos, Argentina e Chile.
Grão-mestre Chan Kowk Wai leciona diversos estilos de Kung Fu na matriz da Academia Sino-Brasileira, dentre os quais estão : Choy Li Fat, Shao Lin do Norte, Tam Tui, Tcha Chuan, Lo Hap, Lo Hon, Tong Long, Garra de Águia, Xing Yi, Pa Kua, Tai Chi Chuan, Pa Ki e Palma de Ferro.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Como ser admitido Discípulo no Templo Shaolin

Segundo inúmeras lendas e relatos antigos, os novos discípulos eram admitidos no templo no início da primavera, que coincidia com o tempo das grandes chuvas . Nesses dias os pais que desejavam que seus filhos se tornassem monges os levavam ao pátio frontal às escadarias do templo e lá os deixavam sozinhos aguardando que os monges os convidassem a entrar.
Os monges de Shaolin não abriam logo as portas do mosteiro (às vezes demoravam alguns dias) e as crianças eram obrigadas a suportar ao relento o sol e as chuvas torrenciais que costumavam cair nesse período. Muitas das crianças eram conduzidas de voltar por seus próprios pais que não suportavam vê-las sofrer. Embora não abrissem as portas os monges observavam o comportamento das crianças e iam selecionando aquelas que consideravam suficientemente disciplinadas para suportar as árduas exigências do templo de Shaolin.
Quando as portas se abriam os monges mandavam de volta para casa as crianças que consideravam que não suportariam seus ensinamentos. As demais crianças eram admitidas no primeiro pátio interno e conduzidas a uma grande mesa onde já estava sentado um velho monge (geralmente o patriarca do templo).

Quando se sentavam à mesa eram observados seus comportamentos, se pediam comida (podiam estar a três dias sem comer) eram servidas e depois mandadas para suas casas, pois era considerado indecoroso pedir comida ao invés de aguardar o momento de serem servidas. Se corriam para a mesa avidamente, ou apressadamente demais também eram dispensadas.
Às que passavam por esse teste era dado uma tigela sem fundo, uma grande bolacha seca achatada (do tamanho do fundo da tigela) e era servido o chá. O procedimento correto era forrar o fundo da tigela com a bolacha para que pudesse ser servido o chá sobre ela. As crianças que não o faziam eram dispensadas sumariamente, pois não eram consideradas suficientemente inteligentes para aprender os ensinamentos de Shaolin. Se a criança agisse corretamente colocando a bolacha no fundo da tigela mas começasse a tomar o chá antes do monge idoso que estava sentado à mesa, era mandada de volta para casa, pois o respeito aos idosos era de grande importância na cultura chinesa.
Logo em seguida a essa fase lhe era entregue uma vassoura e lhe ordenava que varresse um determinado pátio, mal tivesse terminado de varrer surgia algum monge com os pés enlameados e sujava todo o lugar que havia sido varrido. Assim que o monge porcalhão desaparecia do pátio surgia então o monge que lhe havia ordenado que varresse o lugar e o interpelava mais ou menos assim:
Eu não mandei que você varresse esta sala? Olhe só que imundície! Você é um vagabundo que não obedece as ordens que recebeu! Se o garoto resmungasse que já tinha varrido ou que depois que tinha varrido tinha vindo um monge e sujado tudo outra vez, era mandado embora pois não tinha suficiente dedicação ao trabalho para permanecer no templo Shaolin. O garoto deveria abaixar a cabeça e continuar a varrer sem proferir nenhuma palavra. Este teste da vassoura era repetido diversas vezes como prova da humildade, da paciência e da perseverança do aluno.
Depois que superava os testes iniciais o aluno era submetido a todo tipo de provação, como o teste da limpeza que incluíam lavar as latrinas, retirar a poeira dos imensos arabescos e baixos-relevos que existiam por quase todas as paredes do templo , lavar escadarias e corredores imensos, etc ...
Durante esse período inteiro o aluno passava por periódicas humilhações por parte dos estudantes mais avançados, todas elas com a intenção de testar-lhe a fibra moral e a paciência. Dormia-se poucas horas cada noite e trabalhava-se arduamente. Quando começava a espelhar uma certa frustração ou cansaço, um monge se aproximava dele e lhe indagava há quanto tempo estava no templo. Geralmente o aluno respondia que estava lá há muito tempo; em parte porque não lhes era dado acesso a nenhum calendário que lhes permitisse saber há quanto tempo lá estava; em parte porque estava desejoso de iniciar a prática do Kung-Fu que só era permitida a alunos mais avançados. Mas se a resposta fosse essa, o aluno era deixado entregue a seus afazeres por mais alguns meses. A resposta certa seria: Há bem pouco tempo estou aqui (Mesmo que já fizesse alguns anos que lá estivesse).
Depois desse abandono inicial passava alguns meses e ele era convidado a praticar o Kung-Fu de Shaolin, nas primeiras aulas ele era o saco de pancada dos mais velhos praticantes e as surras eram duríssimas. As práticas ritualísticas e o período de meditação eram ampliados, as refeições eram nas mesas dos refeitórios do templo, era transferido para os dormitórios superiores junto dos alunos mais velhos.
Além dos testes de habilidade física e marcial havia os testes de habilidade artística, geralmente caligrafia e composição poética. Havia também os testes de doutrina budista e de medicina tradicional, os monges eram excelentes acupuntores e massagistas. O trabalho na lavoura também era obrigatório e todo monge tinha que fazer seu estágio na cozinha aprendendo auto-suficiência na arte culinária. Ele deveria ter noções de sobrevivência em condições inóspitas, na selva , no gelo e em terrenos desconhecidos, devendo ser capaz de localizar ervas medicamentosas, preparar infusões curativas, colocar no lugar ossos quebrados, preparar remédios, etc...
O templo de Shaolin era, antes de tudo , uma escola de filosofia e religião e as pessoas que nele ingressavam o faziam com o objetivo de alcançar a realização espiritual. Aos monges que se dedicavam exclusivamente aos estudos doutrinários e às práticas espirituais era facultada a saída do templo desde que em missões administrativas ou de caridade ao povo.
Mas aos monges que haviam escolhido o caminho da Arte Marcial somente era permitida sua saída se distinguissem de maneira incomum na arte de lutar. Se fosse capaz de vencer os instrutores dos cinco estilos principais de Shaolin poderia requerer a prova do corredor da morte (Os cento e oito bonecos de madeira que eram acionados pelo peso de quem se atrevesse a penetrá-los). Se o monge que os enfrentasse conseguisse sobreviver ao corredor, deveria levantar uma Urna Incandescente para poder sair pela única porta do recinto.
Nas laterais da Urna havia em alto-relevo as figuras dos Cinco Animais de Shaolin que simbolizavam os principais estilos de Kung-Fu do Templo. Quem quer que tivesse superado os 108 homens de madeira do corredor da morte teria que levantar a urna para poder sair. A porta permanecia aberta por uns poucos momentos, e se o monge desmaiasse no processo ou não se atirasse para fora com certa rapidez, arriscava-se a perder todos seus esforços.
Hoje em dia é muito fácil só pagamos a mensalidade para aprendermos o Kung-Fu de Shaolin, e mesmo assim tem alunos que se enchem de razão quando o professor chama-lhes a atenção, não bastando isso vão embora da academia falando mal de seu professor, tudo isso pela falta de educação que se traz de casa culpa da educação ocidental e do capitalismo, se você lhes da uma vassoura se ofendem, se manda limpar os aposentos da academia parece que caiu um pedaço deles e muito mais eu tenho visto nestes 20 anos de Kung-Fu, a primeira coisa que o aluno diz é (Eu estou pagando para aprender o Kung-Fu e não para ser faxineiro da academia). Estes são os Shaolin da atualidade cheios de razão e falta de educação. É mais fácil trocar de academia do que tentar aprender a ser mais humilde e perseverante ou seja um ser humano melhor na sociedade em que você vive.

REINALDO BADE
Professor de Shaolin do Norte
Florianópolis- SC

quinta-feira, 30 de julho de 2009

TAI CHI CHUAN

Dos diversos estilos de Kung-Fu/Wu-Shu, a mais famosa Escola Interna é a de Tai Chi Chuan (Taiji Quan). Sua linhagem filosófica é taoísta.
TAI CHI CHUAN ESTILO YANG
– Texto extraído do livro “Tai Chi Chuan – A Arte Marcial da Longa Vida” de Catherine Despeaux.
Se a família Chen foi o berço da Taiji Quan, a família Yang foi a fonte principal de sua propagação, graças a Yang Luchan, discípulo de Chen Changxing. Yang Luchan (1789-1872) cujo primeiro nome era Fukui, nasceu no distrito de Yongnian, na província de Hebei. Aprendeu o "boxe longo em trinta e duas posturas de Song Taizu '" (Song Taizu san shi er tu chang quan) com um mestre chamado Liu. Sang Taizu é fundador da dinastia Song, conquistou o trono pelas armas combatendo as populações bárbaras dos Quedam.
Embora tivesse nascido numa família camponesa próspera, precisou alistar-se, após a morte do pai, na milícia da aldeia Era então muito jovem. As milícias, aliás, se formavam essencialmente de jovens cujas famílias já não podiam encarregar-se deles.
A conselho do mestre, Yang Luchan foi estudar o Taiji Quan na família de Chen Changxing, em Chenjiagou. Como Chen Changxing só transmitia sua arte aos membros de sua família, Yang Luchan permaneceu junta dele por vários anos como criado, exercitando-se ás ocultas. Certa noite surpreendeu seu amo ensinando a seus discípulos exercícios de respiração e as "diferentes técnicas para emitir e tomar (a energia)"(na fa zhu shu). A partir desse dia, assistiu ás lições à revelia de todos. Quando, afinal, foi descoberto par Chen Changxing, este ficou surpreso com a sua mestria e decidiu revelar-lhe os segredos da família. Depois disso, Yang regressou inicialmente a Hebei para transmitir o Taiji Quan aos habitantes de sua aldeia natal. A técnica de combate que ali se praticava então se denominava "técnica das transformações" (hua quan) ou "arte do combate flexível" (xuan quan) ou ainda "técnica de combate ligada" (zhan mian quan), pois era executada com flexibilidade e com movimentos ligados uns aos outros sem interrupção. Ignoramos o tempo exato que Yang permaneceu em sua aldeia após regressar de Chenjiagou, mas, incitado principalmente por Wu Yuxiang, partiu para ensinar o Taiji Quan em Beijin, onde fundou uma escala. Foi com ele que o desenvolvimento do Taiji Quan começou a deslocar-se dos campos para as cidades, tendência essa que depois se acentuaria.
Em Beijin, Yang ensinou no exército dos manchus e teve, entre seus discípulos diversas personalidades da corte dos Qing. Desde então, votou-se, com os três filhos, ao ensino do Taiji Quan. Alcunhado de "o sem rival", era freqüentemente desafiado pelos mestres de outras escolas desejosos de medir-se com ele. Certo número de anedotas valoriza as poderes extraordinários de Yang Luchan, apresentado como herói invulnerável. Conta-se que, num dia de chuva, estando sentada em sua casa, viu a filha, que entrava com uma bacia de água nas mãos, na iminência de escorregar nos degraus da escada que dava acesso a casa. Yang Luchan deu um salto e alcançou-a sem que uma única gota de água se derramasse. Diz-se também que ele era capaz de permanecer colada a um muro com os pés a alguns centímetros do chão. Sua morte foi tão fabulosa quanto a do lendário criador do Taiji Quan, Zhang Sanfeng. É a morte típica dos mestres de c´han (zen) ou dos mestres taoístas da escola de Quanzhen. Ele teria mandada, um dia, dais filhos reunirem seus discípulos e descendentes. Após breve discurso, teria declarado aos assistentes que chegara o momento em que teria de deixar este mundo. E morreu na mesma instante.
Cada um dos três filhos de Yang Luchan desenvolveu seu próprio modo de ensino do Taiji Quan. Yang Banhou especializou-se na "pequeno encadeamento" (xiao jiazi), no qual o movimento era mais fechado que os do método paterno; Yang Jianhou consagrou-se ao "encadeamento médio" (zhong jazi), ao passo que Yang Fenfhou seguiu o "grande encadeamento" (da jiazi), herdado do pai D terceiro filho de Yang Jianhou, Yang Chengfu (1883-1936), foi o propagador do Taiji Quan em toda a China, que percorreu do norte ao sul, dirigindo-se nomeadamente a Nanquin, Xangai, Hangzhou e Hankou (Wuhan). O Taiji Quan espalhou-se, pois, a pouco a pouco, por todo o país, e foi depois da viagem de Yang Chengfu ao sul da China que se difundiu como técnica profilática.
Desse modo assinala-se, desde essa época, a mudança de natureza do Taiji Quan, que passou da técnica guerreira inicial á técnica psicossomática. Não obstante isso, na época o Taiji Quan continuava pouco conhecida fora de Beijin, a crermos num discípulo de Yang Chengfu, Chen Weiming, que confessa no prefácio de sua obra, Taiji Quan wenda, que, Quando começou a aprende-lo, poucas pessoas tinham ouvido falar no Taiji Quan. Porém, segundo Gu Liuxin, na época da revolução de 1911, o Taiji Quan já era conhecido em Beijin como técnica terapêutica; e ele cita o poema seguinte, da autoria de um certo Yang Jizi:
No Qingbai leichao, compilação de Xu Ke Publicada em 1917 e que encerra um capitulo sobre as artes marciais, está escrito "o boxe compreende duas correntes, o pequeno e o grande encadeamento". Não se menciona, contudo, o nome de Taiji Quan.
"Quem poderia ter previsto que a arte da escola Chen do norte
Se propagaria graças à família Yang do sul?
Quem teria podido pensar outrora que, a partir de Tan Gong,
O Taiji Quan se espalharia como arte terapêutica?'
Desgraçadamente, não sabemos quem é esse Tan Gong. Um discípulo de Yang Chengfu, Chen Weiming, contribuiu igualmente para a difusão do Taiji Quan da escala Yang, com seus escritos e aulas em Xangai. Chen Weiming, com efeito, é autor de vários livros sobre o Taiji Quan da escola Yang, que lhe teriam sido ditados por Yang Chengfu. No prefácio de um deles, intitulado Taiji Quan iangyi e escrito em 1925, conta como chegou ao Taiji Quan. Ouvira falar na Taiji Quan da corrente Wudang. Em 1915, dirigiu-se a Beijin e ali encontrou, primeiro, Sun Lutang, então conhecido principalmente pela mestria na "boxe dos oito trigramas" (ba-gua quan) e no "boxe do corpo e do pensamento" (xingyi quan). Só posteriormente o próprio Sun Lutang iria fundar um estilo de Taiji Quan. Sun Lutang falou-lhe, portanto, de Yang Chengfu, e Chen Weiming estudou com Yang, durante sete anos, o pequeno e o grande encadeamentos. Em seguida, em 1924, Chen Weiming foi oficialmente para Xangai a fim de ensinar o Taiji Quan em troca de honorários. Em 1925, ali fundou a "sociedade das artes marciais de extrema flexibilidade" (zhirau quanshe) e continuou difundindo o Taiji Quan da escala Yang. Na principio, o Taiji Quan, pouco divulgado em Xangai, era até desprezado, pois lhe chamavam a "técnica de combate com os demônios" (mie gui Quan), e seus adeptas o praticavam mais ou menos escondidos. Nessa época, pouquíssimas mulheres nele se adestravam. Depois disso, vários mestres célebres, entre os quais Yang Chengfu e Yang Shaohou, foram para Xangai, ande formaram muitos discípulos, alguns dos quais fizeram do Taiji Quan uma profissão, ensinando-a nos parques ou fundando associações que visavam ao seu ensino e propagação Nos anos 30 a 35, registrou-se a introdução do ensino da Taiji Quan em estabelecimentos de ensino secundário e nas escolas de professares de educação física.

domingo, 26 de julho de 2009

"JÁ ALGUMA VEZ TIVESTE QUE A USAR?"

É sempre a primeira pergunta que eles fazem, depois de lhes dizermos que praticamos artes marciais. "Já alguma vez tiveste que a usar?" Apesar de estar seguro que estas pessoas têm boas intenções, e que provavelmente só querem demonstrar interesse, elas não sabem a falta de compreensão que tal pergunta revela. Para muitas pessoas, a arte marcial é como um instrumento que carregamos à volta do cinto, uma arma para ser quebrada em tempos de sarilhos. Para mim, esta opinião acerca da nossa arte marcial é um pouco perturbadora.
Qualquer artista marcial sério, de qualquer estilo, compreende que a sua arte é um modo de vida. Nós praticamos exercícios de respiração no trânsito, fazemos uma preparação mental à medida que o professor nos entrega os exames, ou baixamo-nos para o chão para ver um gato alongar-se. Para muitos de nós, a arte marcial atrai-nos, não pelo seu aspecto físico - a aeróbica ou a dança seriam suficientes se isso fosse tudo o que quiséssemos - mas pelos seus componentes estratégicos, intelectuais e espirituais. Não devemos deixar ser categorizados tão limitadamente por pessoas que não percebem esta motivação. Para combater esta tendência, temos de compreender a sua fonte. Este editorial irá tentar dar uma breve descrição daquilo que acredito ser a fonte do problema, e irá oferecer algumas pequenas sugestões para dissipar esta ma interpretação sobre o nosso modo de vida.
Para muitas pessoas, o primeiro contato com as artes marciais é, provavelmente, feito através da televisão e dos filmes. Lembro-me do velho programa de televisão "Kung Fu" ser um dos meus favoritos quando era criança. Apesar de agora ter de admitir que o ponto forte do programa era a sua moralidade quase mística, e não os combates, as partes de combate eram o que eu e os meus amigos imitávamos no dia seguinte. Não se pode negar que a nossa arte é urna arte de combate; o uso controlado da agressão e a ameaça da violência estão no centro das nossas vidas, e isto é o que muitas pessoas vêm quando as examinam.
Contudo, é a auto-disciplina, o ímpeto e a ênfase na moralidade que nos separa das outras formas de violência organizada. Primeiro ensinamos a reconhecer uma situação potencialmente perigosa antes mesmo de esta se manifestar, e a tratar sempre os outros com respeito e humildade. Os artistas marciais sérios que tenho encontrado nos meus anos de estudo são tudo menos rufiões brutos à procura de brigas. Pelo contrário, quase todos eram indivíduos refinados e educados que procuravam, continuamente, melhorar-se em todos os aspectos concebíveis. As suas ações eram motivadas por um sentido de wude (moralidade marcial) e, nunca por sentido de auto-glorificação. Eles testemunharam a profunda mudança que as artes marciais podem trazer às suas vidas, e pretendem aplicar essa força construtiva ao maior número possível de áreas diferentes das suas vidas.
Para tornar a nossa arte mais aceita por um maior número de pessoas, temos de dominar este ímpeto e transformá-lo num objetivo de educação. Temos, primeiro, de nos empenhar em educar não só o grande público, corno a nós próprios. Um sábio lutador escreveu que uma pessoa de estratégia tem de conhecer todas as artes e tem de desenvolver uma compreensão de tudo. Educar-nos a nós mesmos para que possamos cruzar com os outros como lutadores acadêmicos, em vez de rufias arrogantes e intimidadores, é a forma mais eficaz e única de nos livrarmos da imagem estereotipada que o cinema e o público nos têm aplicado. Se estiveres na escola, fica. Se desistires, volta, ou pelo menos tenta alcançar um grau equivalente. E, finalmente, não importa quem ou onde estás, lê um livro, qualquer livro. A simples fome de conhecimento de qualquer tipo não só te irá melhorar, mas como elevar a nossa arte aos olhos do mundo. Desta forma, da próxima vez que uma pessoa te perguntar se alguma vez tiveste que a usar, poderás explicar-lhe que não é algo externo que nós usamos, como uma chave de fendas ou um martelo, mas sim, algo que nós incorporamos no nosso ser, e que o fato mais surpreendente é que não te lembras quando é que foi a última vez em que não a estiveste a usar.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Grão-mestre Yim Sheung Mo


Nascido em 1882 na cidade de Linxi, província de Guanzhou, aos 35 anos de idade Yim Sheung Mo já era um respeitado e conhecido mestre de Hung Gar, mas nesta mesma época o destino dos dois mestres se cruzaram numa situação inusitada.
Fato comum naquele tempo, Yim Sheung Mo ouviu sobre a reputação de um jovem mestre vindo do norte e resolveu desafiar Ku Yu Cheong para um combate amistoso; Yim Sheung Mo disparou diversos chutes e socos mas Ku Yu Cheong defendeu todos com apenas uma das mãos … ao contra-atacar, Ku Yu Cheong encostou no corpo de Yim Sheung Mo a vontade, que não conseguiu nem defender-se nem desviar dos ataques. Percebendo a superioridade do adversário, Yim Sheung Mo se desculpou, abandonou o seu estilo e tornou-se discípulo de Ku Yu Cheong.
Tornando-se um dos três herdeiros do conhecimento de Ku Yu Cheong, Yim Sheung Mo teve a oportunidade de aprender outros estilos, graças a reputação do seu professor; aprendeu Choy Li Fat Bak Sing com Tam Sam, Luo Hap e Chi Yi Mun com Mong Lai Sin.
A conselho de Ku Yu Cheong, Yim Sheung Mo mudou-se para Hong Kong em 1952 devido a instabilidade política da China, e lá recebeu a acolhida da família Chan, em que cuja casa passou a ministrar aulas; sua reputação cresceu rapidamente e logo tornou-se mestre conhecido em Hong Kong.


Famoso por suas habilidades marciais, Yim Sheung Mo também foi personagem de muitas estórias curiosas; num restaurante, Yim Sheung Mo perfurou uma xícara de porcelana com o dedo médio sem movê-la do lugar. Seu apelido era Yim "Cabeça-de-ferro" … numa vez, visitando antigos colegas de Hung Gar, Yim Sheung Mo fora apresentado a alunos mais novos de forma jocosa como "o mestre de Hung Gar que havia virado aluno de Shao Lin do Norte"; após terminar a sua visita, despediu-se dos presentes e abriu um buraco na parede com a sua cabeça e foi embora …
Yim Sheung Mo teve muitos alunos em Hong Kong, e deixou alguns representantes dos seus ensinamentos em todo o mundo; Chan Ning Ling, Choy Ning, Au Wing I, Wong Chia Man, Kwok Wing Lam e muitos outros, mas o que mais se destacou e tornou-se herdeiro de todo o seu conhecimento foi Mestre Chan Kowk Wai.
Yim Sheung Mo dedicou toda a sua vida ao ensino da arte marcial chinesa e deu aulas até seu último dia de vida, vindo a falecer em 1971 em Hong Kong.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Musculação para Artistas Marciais

É importante ressaltar que não estou taxando aqui o que é melhor ou pior para ninguém. Estou apenas ensinando alternativas de treinamento para artistas marciais e interessados, especificando sua forma de realização, e tipos de exercícios, de modo a melhorar o que deve ser melhorado e treinar da maneira correta para seu objetivo na musculação, cumprindo suas metas com maior êxito e no menor tempo possível. Qualquer prescrição precisa de atividade física deve ser realizada por um especialista respeitando as limitações e considerando os objetivos de cada um. Espero que as informações aqui expostas lhe ajudem.
Hoje a prática do fisiculturismo é muito comum nas academias, seja esta como atividade primária, secundária ou esporádica. Os homens buscam esta prática geralmente com o objetivo de hipertrofia muscular (aumento de massa muscular) ou definição muscular, e as mulheres geralmente com o objetivo de modelagem estética ou emagrecimento. Os objetivos diferem, mas uma coisa é certa e comum: a musculação nas academias move multidões com o sonho do corpo perfeito. Praticando adequadamente e com orientação, qualquer objetivo certamente será cumprido.
No caso do artista marcial, a musculação entra como um complemento. Quando já se tem uma técnica lapidada e não se tem muito que melhorar, é comum se treinar então o aumento da força via musculação; ou quando a técnica é pouca, compensa-se com força; ou ainda para evoluir gradativamente técnica e força. E, em se tratando de treinamento de força, a musculação é singular. Tudo isso é muito bom e conceitualmente perfeito: aliar o treinamento de técnica com o de força muscular. Porém, será que o artista marcial treina da maneira certa? A musculação ajudará ou atrapalhará a performance dos praticantes das Artes Marciais? Com certeza, se realizada indevidamente a musculação atrapalhará qualquer treinamento paralelo. No caso do artista marcial tornando o praticante lento, e sem seqüência, ficando assim vulnerável a um atacante ágil ou habilidoso. Pode parecer estranho, mas acontece muito quando não se é cauteloso na seleção de objetivos e no traço dos treinos de musculação.
Para que isso não ocorra, os objetivos de um artista marcial praticante de musculação devem ser devidamente direcionados. Tudo na musculação gira em torno dos objetivos; portanto, trace os seus corretamente ou procure um especialista para tanto. Caso seu objetivo seja priorizar a musculação, não perca tempo lendo o restante do texto. Caso sua primícia sejam as Artes Marciais e a musculação é tão somente um apoio/complemento, então entenda que você não deve treinar musculação como as pessoas que buscam hipertrofia ou definição, pois seu objetivo é outro! Você deve buscar na musculação o que mais lhe ajudará e mais se assemelha à necessidade das Artes Marciais. Em geral, o artista marcial necessita de: 1º: Explosão, 2º: Resistência, 3º: Força; nesta ordem. Ironicamente a força muscular é a mais fácil de se adquirir e normalmente a mais treinada nas academias, a resistência muscular é um pouco mais difícil de se conquistar e menos treinada, e, o mais difícil de se ver alguém treinando e de se munir é a explosão muscular.
Além do seu principal objetivo na musculação, trace objetivos secundários e terciários a serem cumpridos (metas). Por exemplo, aumentar a carga do exercício E em três meses; ou, mudar a série do exercício F para supersérie em dois meses; ou ainda, fragmentar o treino de dois dias por semana para três dias por semana em um mês.
Treinando musculação de forma a desenvolver explosão muscular: É quase impossível você ver alguém treinar musculação com este objetivo, e afirmo que muitos instrutores de musculação não têm a menor noção de como e para que se treina isso. Por isso adianto que você encontrará certa resistência para concretizar este treinamento.Para se treinar explosão deve-se aplicar uma resistência no movimento agonista (início do movimento) e rapidamente/subitamente extinguir tal resistência, de modo a musculatura executar um movimento brusco (explosivo) no sentido contrário à anterior resistência. O movimento antagonista (retorno) deve ser rápido mas sem explosão. Exemplo: No supino reto (peitoral) com barra, inicialmente sem peso algum (somente a barra), com um auxiliar segurando na barra pressionando-a para baixo, de modo ao executor do exercício explosivo não suportar ergue-lo (realizar esta resistência ao músculo agonista por três segundos), o auxiliar que aplicara a resistência na barra subitamente solta a mesma, de modo que o executor do exercício explosivo executará uma rápida movimentação no sentido que desejava. Após se familiarizar com o exercício aumente o peso da carga (Caso você tenha um Teste de Força Máxima recente, aplique de 30 a 40% da carga nele alcançada). Pois bem, este é um exemplo, faça sua série adaptando os exercícios a esta forma de execução, pois somente assim se treina explosão muscular. Nunca faça isso em máquinas, pois elas provavelmente não aguentarão o impacto e certamente com o tempo serão danificadas. Dê preferência para alteres e anilhas, barras e aparelhos sem roldanas. Execute 4 séries de 12 repetições para grupos musculares grandes e 3 séries de 10 repetições para grupos musculares pequenos. No caso dos iniciantes em fisiculturismo execute inicialmente um trabalho de base para depois de no mínimo três meses aplicar o treino de explosão muscular. Treinando musculação de forma a desenvolver resistência muscular: O treinamento de resistência muscular é mais demorado que o de força, pois se executam mais repetições de cada exercício; a carga é menor e a velocidade de movimentação geralmente é maior. Caso você tenha um Teste de Força Máxima recente, aplique de 10 a 30% da carga nele alcançada. Execute os exercícios com simetria e respirando a cada ciclo de movimento. Para grupos musculares grandes execute de 5 a 6 séries de no mínimo 30 repetições; para grupos musculares pequenos execute de 4 a 5 séries de no mínimo 20 repetições. Lembre-se que a carga deve ser baixa, e, ás vezes, nenhuma. Exemplo: Elevação lateral dos braços (ombro), sem peso algum (só o peso dos braços já oferece uma resistência), com 6 séries de 50 repetições. Treinando musculação de forma a desenvolver força muscular: Em geral são poucas séries com poucas repetições em cada exercício e uma carga grande (difícil desde a primeira contração). Realize os exercícios de forma lenta e concentrada, sentindo o músculo que está sendo trabalhado. Execute apinéia (prenda a respiração) durante todo ciclo de movimento do exercício ou somente na fase agonista (início do movimento). Sendo necessário, peça a ajuda de alguém para erguer um peso grande demais que você não está conseguindo fazê-lo sozinho, não tenha vergonha. Acidentes já ocorreram em academias por excesso de peso nos exercícios. Não abuse, nem exagere. A carga deve ser grande, mas nunca no seu limite. Afinal, sua saúde e integridade física estão acima do ego. Caso você tenha um Teste de Força Máxima recente, aplique de 60 a 80% da carga nele alcançada. Para grupos musculares grandes execute de 3 a 4 séries de 6 a no máximo 12 repetições (o padrão são 8); para grupos musculares pequenos execute de 2 a 3 séries de 6 a 10 repetições. Exemplo: Rosca direta na barra W (bíceps), 2 séries de 10 repetições mais 1 série de 8 repetições (na terceira série aumenta-se ainda mais a carga).
Seguindo os objetivos descritos acima em sua ordem de importância, o treino de explosão ocupa 3/6 do ciclo de treinamento, o treino de resistência ocupa 2/6, e o de força somente 1/6. Exemplo: Treino A Treino B Treino C Treino D Treino E Treino F explosão resistência explosão força explosão resistência Portanto, na semana, pode-se montar a série de treinos assim: 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª Sáb. ou 2ª 4ª 6ª 2ª 4ª 6ª ou 3ª 5ª Sáb. 3ª 5ª Sáb. ou 2ª 3ª 5ª 6ª 2ª 3ª Monte seu treino da forma mais adequada, conforme sua disponibilidade de tempo e gosto pessoal. Dica: Evite manter um intervalo maior que dois dias entre os treinos, isso produz ineficiência e baixa o rendimento de performance. Se você treinou na Sexta-feira por exemplo, procure treinar novamente na Segunda-feira, pois caso você treine somente na Terça-feira seu linear evolutivo reduzirá de escala. Em contrapartida procure deixar os músculos descansarem no mínimo 24 horas (o ideal são 48 horas). Treinar com músculos cansados leva à fadiga, dor muscular, mal estar, facilitando acidentes e lesionando o músculo (estiramento muscular, rompimento de tendão, etc.) Dica: Os músculos abdominais possuem fibras que somente através de muitas repetições produzir-se-á bons resultados. Exemplo: na 2ª, 4ª e 6ª feira treina-se força muscular localizada abdominal com 3 séries de 30 repetições com carga e com movimentos lentos; na 3ª, 5ª e Sáb. treina-se resistência muscular localizada abdominal com 5 séries de 100 repetições sem carga e com movimentos rápidos. Dica: Se você quer perder gordura na região abdominal execute exercícios aeróbicos (caminhada, corrida, bicicleta, etc.). Se você tem protuberância abdominal execute exercícios abdominais. Em ambos os casos uma reeducação alimentar ajuda muito. Importante: O abdome não é uma coisa só. Ele se divide (para treinamento) em basicamente quatro porções: região supra abdominal (boca do estômago), região infra abdominal (abaixo do umbigo), regiões oblíqua esquerda e direita (abaixo dos músculos peitorais), regiões laterais direita e esquerda (ao lado das costelas flutuantes). Portanto não treine somente para uma destas regiões, mas sim para todas! Procure um especialista. Importante: Nunca se esqueça de alongar os músculos, principalmente os que irá treinar no dia, antes de iniciar. Realize um aquecimento geral e outro específico para o exercício que irá realizar. Após a atividade física alongue novamente a musculatura. Isso ajuda a prevenir lesões, câimbras e dores musculares.

por Alexandre Cruz

domingo, 12 de julho de 2009

Ku Lu Zan – Um Grande Mestre da Palma de Ferro


A lenda começa em 1931, uma péssima época para as artes marciais. A intervenção dos países do ocidente e as humilhações promovidas pelo Japão feriam gravemente o ego e a cultura dos chineses. A tragédia da rebelião dos boxers que degradaria para sempre a imagem do Kung-Fu aos olhos do mundo e o inevitável desinteresse pelas artes marciais que pareciam absurdas frente as armas de fogo. Afinal, defesa pessoal poderia ser facilmente adquirida com o mero porte de uma arma. Por que, então, gastar tempo e esforço treinando arduamente para conseguir a tão valiosa “invencibilidade” chinesa? O conceito de arte marcial na china parecia ferido e o respeito pela tradição também.

Até mesmo o imponente mosteiro budista de Shaolin foi incendiado e seus magníficos guerreiros tiveram que assistir ao rapto das mulheres dos vilarejos próximos que haviam buscado proteção no templo.

O caso do cavalo indomável: um circo chega no Parque da Melancia, em Cantão, e traz consigo um desafio cujo único propósito era humilhar os chineses e mostrar a inútil batalha contra o assédio vindo do Oeste. Um evento ocorrido nesse local haveria de restaurar para sempre a fé no milenar Kung-Fu.

Nessa época era normal nos circos combates entre humanos e cangurus boxeadores ou crocodilos, mas este em especial trazia um cavalo especialmente treinado para dar coices. O desafio, mediante recompensa, era sobreviver a um combate contra o cavalo que diziam ser indomável, existem outras versões que dizem que o desafio seria aguentar a três coices do cavalo sem desmaiar, muitos tentaram inutilmente resgatar ao menos parte da honra perdida, esse fato atraiu a atenção de Ku Lu Zan, mestre de Kung-Fu Shaolin do Norte e do estilo Sun de Tai-Chi-Chuan e membro da fraternidade nortista conhecida como “os cinco tigres do norte”, incapaz de tolerar o peso dos lutadores decidiu aceitar o desafio. A lenda conta que Ku Lu Zan deferiu um único golpe na barriga do cavalo que teve seus órgãos internos esfarelados sem nem mesmo que sua pele fosse afetada, esse fato somente fez aumentar a fama de Ku Lu Zan que já era muito conhecido pelo uso da “Palma de Ferro” sua técnica mais conhecida.

Ku Lu Zan tinha apenas 37 anos quando derrotou o cavalo em Cantão, seus primeiros passos no Kung-Fu começaram aos 16 anos logo depois da morte de seu pai Ku Li Zi, mestre no lendário estilo muçulmano do Tan-Tui, com quem somente treinou por dois anos. Seu treinamento continuou com o mestre Yim Kai Yum, dedicou onze anos ao estudo das técnicas “Punho de Shaolin” , “Corpo de Ferro de Shaolin” e “Palma de Ferro”.

Em 1929 a comunidade marcial chinesa, reunida, buscou restaurar uma parte da honra perdida promovendo um exame nacional de Kung-Fu sob os auspícios do Instituto Nacional de Artes Marciais de Nanjing. Os participantes competiriam em luta livre, combate, armas curtas e armas longas. Durante a fase final da competição não haveria diferenciação entre pesos, normas de segurança ou equipamentos de proteção. Ao final, Ku Lu Zan foi selecionado para o grupo de 15 atletas - os primeiros colocados no exame que passariam a representar as artes marciais chinesas.

Logo depois o mestre de Kung-Fu Shaolin Norte rumou para o sul da China junto com mais quatro integrantes do grupo dos 15 e passaram a ser chamados de “Cinco Tigres do Norte”. Ku Lu Zan abriu sua própria academia, a Escola de Artes Marciais de Guangzhou, e passou a se especializar cada vez mais nos estudos dos estilos internos e externos. Após algum tempo desenvolveu centenas de técnicas de aprendizado e tambem algumas técnicas de Chi Kung hoje conhecida como a rotina do “Pequeno Sino de Ouro”, apesar de tudo Ku Lu Zan ficou muito conhecido pela sua técnica de “Palma de Ferro” ainda mais depois do episódio do cavalo e quando ele quebrou 13 tijolos sem espaçamento em uma demonstração, relatos dizem que o golpe foi deferido suavemente e os tijolos se partiram sem fazer barulho.

Ku Lu Zan faleceu em 1962, aos 68 anos de idade. Sua arte sobreviveu através de sete discípulos: Chan Ham Man, Lau Kam Tong, Lun Chi Sheung, Poon Chu, Tse Chung Sang, Wu Siu Po e Yang Sheung Mo (mestre do grão-mestre Chan Kowk Wai) . Hoje, muitos alunos dos discípulos do Tigre do Norte dão aulas em vários lugares do mundo. Definitivamente, o Shaolin do Norte sobrevive através das novas gerações inspirado, fundamentalmente, pelo espírito do venerável mestre vindo do Norte.

Baseado no livro "Inside Kung-Fu (abril de 1997)"

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Mantras e seus Sons de iluminação


Um mantra (tib. ngag / sngags, jap. shingon), proteção mental, é uma série de sílabas que invocam a energia de um buddha ou bodhisattva. A repetição de mantras no Vajrayana é tão importante que o budismo esotérico também é chamado Mantrayana, o Veículo do Mantra. Além do mantra, existe a sílaba semente (sânsc. bija), que sintetiza a essência mente iluminada.
. A relação entre a fala, a respiração e o mantra pode ser melhor demonstrada através do método pelo qual o mantra funciona. Um mantra é uma série de sílabas cujo poder reside em seu som; através da pronunciação repetida, pode-se obter controle sobre uma determinada forma de energia. A energia do indivíduo está fortemente ligada à energia externa, e uma pode influenciar a outra. (...) É possível influenciar a energia externa, efetuando os assim chamados "milagres". Tal atividade é realmente o resultado de se ter controle sobre a própria energia, através do qual se obtém a capacidade de comando sobre fenômenos externos. (Chögyal Namkhai Norbu, Dzogchen)
Para contar as recitações, geralmente se utiliza um rosário (sânsc. mala, tib. trengwa / phreng ba) de cento e oito contas. Na prática, considera-se que uma volta do rosário equivale a cem mantras; os oito restantes servem para compensar os mantras recitados distraidamente.
Os mantras nem sempre possuem um significado claro e muitos deles são compostos por sílabas aparentemente ininteligíveis. Mesmo assim, eles são efetivos porque ajudam a manter a mente quieta e pacífica, integrando-a automaticamente na concentração. Eles fazem a mente ser receptiva às vibrações muito sutis e, portanto, aumentam sua percepção. Sua recitação erradica as negatividades grosseiras e a verdadeira natureza das coisas pode ser refletida na claridade resultante em sua mente. (Lama Zopa Rinpoche, Wisdom Energy)
Recitamos e meditamos sobre o mantra, que é o som iluminado, a fala da divindade, a união do som com a vacuidade. (...) Ele não possui uma realidade intrínseca, é simplesmente a manifestação do som puro, experienciado simultaneamente com sua vacuidade. Através do mantra, não nos apegamos mais à realidade da fala e do som encontrados no cotidiano, mas os experienciamos como sendo vazios. Então, a confusão do aspecto da fala de nosso ser é transformada na consciência iluminada.
(Kalu Rinpoche, The Dharma)
Como atuam os mantras? O som exerce um poderoso efeito sobre nosso corpo e nossa mente. E pode acalmar-nos e dar-nos prazer ou ter influência desarmoniosa, gerando uma sensação sutil de irritação. O mantra é ainda mais poderoso do que um som comum: é como uma porta que se abre para a profundidade da experiencia. Visto que os mantras não têm sentido conceitual, não evocam respostas predeterminadas. Quando entoamos um mantra, ficamos livres para transcender os reflexos habituais. O som do mantra pode tranqüilizar a mente e os sentidos, relaxar o corpo e ligar-nos com uma energia natural e curativa.(Tarthang Tulku, A mente oculta da liberdade)
Em alguns sistemas hindus, diz-se que os mantras são sons primordiais que possuem poder em e por si mesmos. No tantra buddhista tibetano, os mantras não têm tal poder inerente — a menos que sejam recitados por alguém com uma mente focalizada, eles são apenas sons. Porém, para as pessoas com uma atitude adequada, os mantras podem ser poderosas ferramentas que ajudam no processo de transformação.
Os mantras são uma manifestação sonora nascida da vacuidade. Eles são o som autêntico da vacuidade OM MANI PEME HUNG é o coração da sabedoria de todos os Budas. É a quintessência das cinco famílias de Budas e dos mestres do segredo. As instruções que cada uma das seis sílabas encarna são a fonte de todas as qualidades e da beatitude, a raiz de toda realização proveitosa e feliz, o grande caminho em direção às existências superiores e à libertação."Ouvir, ainda que uma única vez, as seis sílabas da palavra perfeita, o coração de todo o dharma, permite atingir o estado sem retorno e tornar-se o barqueiro que libera os seres. Além disso, se um animal, seja ele uma formiga, escutar este mantra antes de morrer, renascerá, uma vez livre dessa existência, no Campo da Beatitude. Recordar uma só vez estas seis sílabas elimina - assim como o sol derrete a neve - toda as faltas e todos os véus dos atos nefastos acumulados no ciclo das existências em toda a eternidade, e conduz ao renascimento no Campo da Beatitude. Tocar apenas as letras do mantra é obter a iniciação dos Budas e dos inumeráveis bodhisattvas. Contemplá-lo uma única vez torna efetivas a escuta, a reflexão e a meditação. As aparências revelam-se como o dharmakaya, e abre-se o tesouro da atividade para o bem dos seres." Os mantras são freqüentemente os nomes de Budas, bodhisattvas ou de divindades. OM MANI PEME HUNG nada mais é que uma maneira de nomear TCHENREZI. De um ponto de vista absoluto, TCHENREZI não tem nome, mas, no domínio do relativo, da realidade guia, ele é designado por nomes, que são o vetor da sua compaixão, da sua graça e do poder das aspirações que formula para o bem dos seres. Assim, a recitação de seu nome transmite as qualidades de sua mente. Aqui reside a explicação do poder benéfico de seu mantra, que é também o seu nome. Assim como assimilamos nosso nome, tornamo-nos um com ele, da mesma maneira, no relativo, o mantra é idêntico á divindade. Eles constituem uma única e mesma realidade. O mantra recitado nada mais é que a própria divindade. Pela recitação, recebe-se a graça da divindade; pela visualização, recebe-se a mesma graça, sem diferença.Considera-se, em primeiro lugar, que cada uma das seis sílabas permite fechar a porta dos renascimentos dolorosos em um dos seis mundos da existência cíclica.
OM: representa o corpo de todos os Budas; é também o começo de todos os mantras; fecha a porta dos renascimentos no mundo dos deuses (devas); purifica os véus do corpo; é a prece dirigida aos corpos dos Budas; corresponde à paramita (virtude) da generosidade; corresponde ao Buda Ratnasambhava; relaciona-se àsabedoria da equanimidade.
MA: As sílabas Ma e Ni - MANI - significam "jóia" em sânscrito. fecha a porta dos renascimentos dos no mundo dos semi-deuses (asuras); purifica os véus da palavra; é a prece dirigida à palavra dos Budas; corresponde à paramita da ética; corresponde ao Buda Amoghasiddhi relaciona-se à sabedoria da atividade.
NI: fecha a porta dos renascimentos no mundo dos homens (manushyas); purifica os véus da mente; é a prece dirigida à mente dos Budas; corresponde à paramita da paciência; corresponde ao Buda Vajradhara; relaciona-se à sabedoria nascida de si mesma.
PE: As sílabas Pe e Me - PEME - segundo a pronúncia tibetana, ou PADME, segundo a pronúncia sânscrita, significam lótus; fecha a porta dos renascimentos no mundo dos animais purifica os véus das emoções conflituosas; é a prece dirigida às qualidades dos Budas; corresponde à paramita da diligência; corresponde ao Buda Vairocana; relaciona-se à sabedoria nascida do Dharmadatu.
ME: fecha a porta dos renascimentos no mundo dos espíritos ávidos (pretas); purifica os véus dos condicionamentos latentes; é a prece dirigida à atividade dos Budas; corresponde à paramita da concentração. corresponde ao Buda Amitabha; relaciona-se à sabedoria da discriminação
HUNG: Representa a mente de todos os Budas e freqüentemente conclui os mantras fecha a porta dos renascimentos no mundo dos infernos ; purifica o véu que cobre o conhecimento; é a prece que reúne a graça do corpo, da palavra, da mente, das qualidades e da atividade dos Budas; corresponde a paramita do conhecimento trascendental. corresponde ao Buda Akshobya. relaciona-se à sabedoria semelhante ao espelho.
Gerando a mente compassiva.
À nossa frente, o céu se preenche de magníficas nuvens claras, arco-íris e chuva de flores. No centro, encontra-se Tchenrezig, o sr. da compaixão, manifestando-se como uma luz radiante que ofusca nossa visão. Ao nosso redor está uma multidão de pessoas amigas, inimigas e aqueles que nos são indiferentes. Observe como todos os seres estão olhando para a luz infinita e se beneficiam da mesma. Com concentração direcionada para a luz, fale mentalmente ou em voz alta o mantra OM MANI PEME HUNG. Num segundo momento reflitamos: “Todos estes seres de alguma forma colaboraram para o meu bem-estar e o de minha família. Todos estão cada qual ao seu modo procurando a felicidade; o seu único desejo verdadeiro é fazer com que seu sofrimento acabe; porém, eles não sabem como fazer e, procurando a saída, sofrem ainda mais.” Após ter refletido desta forma, faça nascer em seu coração o desejo de consagrar cinco minutos por dia para o benefício de todos os seres, então repita mentalmente: "Este é o meu desejo - que todos eles encontrem seu caminho para a luz."
1. Que a luz invada seus corações e que pais e filhos parem de brigar. OM MANI PEME HUNG.
2. Que a luz clareie suas mentes para que encontrem as soluções para seus problemas. OM MANI PEME HUNG.
3. Que a luz penetre em cada uma de suas células e elimine suas doenças. OM MANI PEME HUNG.
4. Que a luz ajude a todos os doentes a se recuperar imediatamente; OM MANI PEME HUNG.
5. Que a luz ajude todos aqueles que estão morrendo neste momento a passar para o além sem dor nem sofrimento. OM MANI PEME HUNG.
6. Que a luz ajude a fazer parar o sofrimento de todos aqueles que neste momento estão nas mãos de torturadores e qualquer tipo de criminoso. OM MANI PEME HUNG.
Que a luz mostre o caminho da paciência e misericórdia a todos os líderes mundiais. OM MANI PEME HUNG. Depois de seus cinco minutos, visualize a luz penetrando em seu coração, tornando-se uma pequena esfera e, por fim, desaparecendo. Descanse e continue seu dia em paz.OM MANI PEME HUNG.